16.1.07

O cheiro a liberdade anda longe, por enquanto

Apesar deste blog já ter sido acusado de falta de originalidade, por alguém que posta letras de canções, confesso que tenho saudades da Liberdade, de Fernando Pessoa. E como o blog é meu (qualquer semelhança com "esta barriga é minha, quem manda aqui sou eu" é pura coincidência, sobretudo, numa altura em que se adensa a discussão em torno do referendo sobre o aborto) fica esse cheirinho de desmazelo pelas obrigações que, por enquanto, anda longe, lá no horizonte distante:

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

4 comentários:

Anónimo disse...

A liberdade construímo-la dentro de nós!!!-que remédio- Nem evocando o 25 de Abril de 74 podemos concluir que há liberdade. Pagamos o chão que pisamos; pagamos o que comemos e bebemos e, no fim, pagamos a terra onde somos enterrados!!o cheiro da liberdade andará longe??
Parabéns pela poesia de Pessoa...sabe sempre bem:)

Anónimo disse...

Ainda bem que és coerente e continuas a publicar no teu blog aquilo de que gostas, mesmo que te limites a copiar o que outros escreveram. E que belo exemplar escolheste!!!

Raimundo disse...

Ah Ah Ah

Essa foi para mim?... foi não foi? Isso... bate no pobre do desempregado! Toda a gente lhe bate. Junta-te à festa da porrada!

Raimundo disse...

Porra... deves andar mesmo muito ocupada!