4.3.11

Talvez sim, talvez não

Voltar ou não? Eis a questão!

8.2.08

Tarde

O último post deste blogue data de Abril de 2007. Pensei voltar a escrever apenas um ano depois. Mas a vontade de reanimá-lo foi mais forte! Os últimos tempos têm sido de mudança e de descoberta de novos prazeres, que deixam a escrita à margem. Entreguei-me à vontade de fazer o que gosto e descobri novos gostos. Deixaram-me ocupada, afastada de outra vontade. Agora regresso talvez só para escrever estas linhas ou para contar a história do menino que vivia debaixo de uma árvore ou a história do menino de gostava de formigas ou história do menino que gostava de ser menino. Todas as histórias têm em comum esse menino.
Era uma vez um menino, que fizesse sol ou chuva, todos os dias calçava umas galochas da cor do céu.
- Azul! - interrompe o menino.
Era uma vez um menino, que fizesse sol ou chuva, todos os dias calçava umas galochas azuis. Tinha recebido essas galochas de um tio que vivia longe.
- O Tio Manuel mora no Canadá - o menino grita ainda mais irritado.
Tinha recebido essas galochas do tio Manuel que mora no Canadá. Um dia, o menino descobriu que as galochas não estavam no sítio do costume.
- Debaixo da cama - diz o menino.
Um dia, o menino descobriu que as galochas não estavam debaixo da cama. As galochas azuis tinham desaparecido do quarto, da casa, da aldeia.
- Aldeia do Monte - precisou o pequeno.
As galochas azuis tinham desaparecido do quarto, da casa, da Aldeia do Monte.
O princípio da história poderia ser este... o fim cada que se apresente.

30.4.07

Guardo sempre

Guardo na memória as tardes em que perdia o olhar no horizonte,
feito de rio, feito de planaltos, feito do toque do sino a rebate.
Guardo na alma a vontade de regressar, de cumprir uma promessa nunca feita mas que parece faltar cumprir.
Guardo no coração o abraço quente com que me recebes, quando me aninho no teu colo.
Guardo na memória as corridas do alto do lugar para a casa azul.
Guardo na alma as marcas de uma infância desenrascada.
Guardo no coração o desejo de me reencontrar.








29.4.07

Dr. Portugal e o Melhor Tirador de Cerveja

Não é novidade que, em Portugal, muitas das nobres personalidades deste cantinho à beira-mar plantado, adoptaram como primeiro nome Dr. ou Eng. O título académico agora ainda mais na berra, com o caso da licenciatura do PM português, está na moda e o que ousar não se dirigir a uma dessas personalidades sem essa muleta está sujeito a ser julgado por cometer um ultraje a tão digno representante da classe dos Dr.'s ou Eng.'s. Apesar de alguns considerarem um preciosismo certo é que, de facto, e na maioria dos casos, este título académico é sustentado por um diploma, conseguido, no final de uma licenciatura. O bom senso assim o diz, embora hoje em dia, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades e 1+1 nem sempre são dois. Os diplomas variam de instituição para instituição, há quase para todos os gostos, os meus preferidos são os que estão em latim e os licenciados nem sequer percebem uma só letra a não ser o seu próprio nome. Muitos já se dissertaram sobre a beleza estética desse diploma numa parede, de preferência numa moldura, e ainda hoje não raras vezes, esse objecto símbolo de um estatuto, de um primeiro nome, aparece, frequentemente, num dos gabinetes desses senhores Dr.'s ou Eng.'s.
Se é verdade que esses diplomas são únicos e intransmissíveis, há outros em Portugal que se tranformaram numa espécie de souvenir para oferecer ao Melhor Namorado, à Melhor Mãe, ao Melhor Pai, ao Melhor Cão, ao Melhor Gato, ao Melhor Piriquito e ao Melhor... Tirador de Cerveja. Percebo a surpresa! Mas a verdade é que na praia de Mira, num estabelecimento comercial virado para o mar, o proprietário ostenta um título que jamais tinha visto. Ao Melhor Tirador de Cerveja, descreve o dito diploma. E atesta o documento que o proprietário é o Melhor Tirador de Cerveja do Mundo. As qualidades do senhor Tirador de Cerveja foram de facto comprovadas, mas também é certo que a engenharia de manusear uma máquina de finos não parece uma ciência difícil. Contudo, tal juízo é posto em causa quando o proprietário tem não um, mas dois diplomas de Melhor Tirador de Cerveja. Ora, agora qualquer leitor pode invocar o "Ver para crer" que dá sempre jeitos nestas descrições inusitadas. Pois há uma prova do que é descrito neste texto, mas por razões várias aguardo que a mesma me chegue às mão, ficando a promessa eleitoral de que essa será exibida neste blog.
Este episódio fez-me reflectir sobre a necessidade de ter um diploma, nem que seja de Melhor Tirador de Cerveja, o importante é que cada um invista na sua formação e se dê a si próprio uma nova oportunidade seja como Melhor Contador de Degraus, Melhor Lava Copos ou Melhor Cortador de Relva. A este investimento, acresce também a necessidade de continuarmos a tentar obter lugares ímpares no Guiness Book. Assim se faz uma grande Nação.

28.3.07

As efemérides

As efemérides teimam em ser assinaladas. Pese embora o significado das datas que, para alguns representam vitória e conquistas, estas efemérides por vezes parecem roçar o desnecessário, mas basta um olhar à volta para percebermos que talvez estas datas possam ainda representar para alguns um avanço.
A propósito do Dia Mundial do Teatro multiplicaram-se as iniciativas por todas as cidades. Mas, por razões afectivas, apetece-me centrar num evento em particular. O Cine-Teatro de Estarreja recebeu a peça Os Camones, da recém-criada Companhia de Teatro de Estarreja. Um projecto que nasce de um workshop de teatro e de repente evolui para uma companhia de teatro. Um grupo de jovens levou à cena uma rábula que em palco colocou lado-a-lado o Portugal de Camões e o Portugal dos novos Camones. Uma primeira peça que por ser primeira ainda tem algumas arestas a limar, mas que merece desde já o aplauso de quem aprecia o espírito de iniciativa, de vontade e de empenho num projecto novo, características raras hoje em dia. O Dia Mundial do Teatro é assim assinalado com a criação de uma nova companhia, ficando Estarreja mais rica e o país também.
Para assistir a esta primeira peça da Companhia de Teatro de Estarreja a sala estava cheia. Pais, mães, avós, tios, primos ou amigos encheram o espaço para ver teatro. Para muitos aquela seria a primeira vez que entravam numa sala de espectáculos, que viam uma peça de teatro. Uma feliz conquista no Dia Mundial do Teatro. Mas também são estes exemplos de mobilização em torno de uma primeira peça que lança a questão: Porque é que as salas de teatro nem sempre estão cheias? Porque é que não gostamos de ver teatro? Porque é que ir ao teatro não atrai as gerações mais novas, que preferem correr atrás de modas ou de imposições? E o preço já não é desculpa, porque os teatros desdobram-se em descontos para mais jovens...

24.2.07

As cinco pérolas do espírito português

O Ministério da Cultura está a apoiar a iniciativa Sete Maravilhas de Portugal, promovida por um consórcio. O objectivo é escolher os sete monumentos mais relevantes de Portugal. Mais uma vez, o homem privilegia a obra, cimento e esquece a nobreza do espírito destes mui nobres aventureiros que partiram à descoberta. Uma lacuna que me proponho a colmatar com a selecção das... cinco pérolas do espírito português (o número é diferente, mas vale a originalidade):

- "Então está tudo bem? Ah, mais ou menos!"
Para o típico português nunca está tudo bem, há sempre um menos bem. Mas porque é que está menos bem? Nunca sabe, mas deve haver algures alguma coisa menos bem.

- "Fazemos isto hoje. Mas para quando é? Para daqui a uma semana. Então ainda temos muito tempo"
Trabalhar com uma semana de antecedência é uma miragem. Se é só para daí a uma semana, faz-se um dia antes que ainda vai a tempo.

- Os diminutivos: cafezinho, bolinho.
O povo português propalado de alma grande revela-se pequeno sempre que se trata de pedir um café ou um bolo. Talvez algum trauma.

- Um autarca que é investigado por corrupção é uma garantia de reeleição.
Até poderia estender-me neste item, mas parece-me desnecessário recomenda-se apenas uma espreitadela por alguns jornais.

- Teve um acidente e partiu uma perna! Coitado podia ter sido bem pior
O português nunca fica contente com o que tem. Prevê sempre o pior, sobretudo, em casos em que o susto foi maior do que a desgraça.

O regresso

Após um longo interregno, imposto por obrigações ditas profissionais, estou de regresso para mais uns bitaites sobre o estado do mundo ou não, talvez sejam apenas uns bitaites sobre o estado do tempo, ou sobre a demissão, desculpem sobre a recandidatura de Alberto João Jardim que decidiu animar ainda mais o carnaval da Madeira, ou sobre a cor das unhas, ou sobre José Cid ou Paco Bandeira ou mesmo sobre nada.

16.1.07

O cheiro a liberdade anda longe, por enquanto

Apesar deste blog já ter sido acusado de falta de originalidade, por alguém que posta letras de canções, confesso que tenho saudades da Liberdade, de Fernando Pessoa. E como o blog é meu (qualquer semelhança com "esta barriga é minha, quem manda aqui sou eu" é pura coincidência, sobretudo, numa altura em que se adensa a discussão em torno do referendo sobre o aborto) fica esse cheirinho de desmazelo pelas obrigações que, por enquanto, anda longe, lá no horizonte distante:

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa