Numa das minhas viagens pelos blogs alheios, li algures alguém queixar-se do interior de Portugal, descrevendo esta faixa do país como o exílio a que são condenados os meninos que se portam mal. Durante anos, andei perdida por estas paragens. Não quero parecer saudosista ou mesmo lamechas. Mas ao ler o queixume desse amigo, lembrei-me das belezas e riquezas deste cantinho encostado à serra. Lembrei-me de como me sentia bem em Monsanto (concelho de Idanha-a-Nova, distrito de Castelo Branco). Recordo o que escrevi:
A “nave de pedra” de Fernando Namora
“Nave de pedra” chamou Fernando Namora a Monsanto. Os gigantes penedos de granito cravados na montanha que inspiraram o romancista parecem sussurrar uma história repleta de invasões e lendas. Estórias guardadas na memória das gentes da aldeia de Monsanto, moldada pelos socalcos e veredas edificadas por estas rochas.
A “nave de pedra” de Fernando Namora
“Nave de pedra” chamou Fernando Namora a Monsanto. Os gigantes penedos de granito cravados na montanha que inspiraram o romancista parecem sussurrar uma história repleta de invasões e lendas. Estórias guardadas na memória das gentes da aldeia de Monsanto, moldada pelos socalcos e veredas edificadas por estas rochas.
Não é difícil perder o rumo por entre as ruas estreitas da aldeia mais portuguesa de Portugal, aliás, é aconselhável... ora pelas calçadas, ora pelos barrocais, nome que o povo dá aos pedregulhos graníticos que abundam em Monsanto e, que ao longo do tempo foram ganhando estranhas formas, que tentam a imaginação.
A cada esquina, são descobertos pequenos e simpáticos recantos. Os balcões floridos ladeiam as calçadas, ponteadas pelas típicas habitações que ilustram o engenho destas gentes raianas. Ardilosos, escavando a pedra ou aproveitando os blocos graníticos como paredes ou coberturas, os monsantinos foram construindo as pequenas casas que convivem com os solares dos mais abastados. A conservação destes espaços valeu a Monsanto a classificação de aldeia histórica de Portugal.Da estrada, avista-se o cabeço de Monsanto (ou de Monte Santo como já foi chamado) refúgio do médico e escritor, Fernando Namora, que se mudou para a aldeia em 1944 e onde escreveu o romance “Minas de San Francisco”.
O monte irrompe desta campina raiana do concelho de Idanha-a-Nova. O casario de granito, espraiado pela encosta escarpada, espalha-se desde o sopé até ao castelo medieval, construído no primeiro quartel do século XIII.
Da porta do Espírito Santo a paisagem é soberana. Mas é pelas calçadas que começa a viagem. Alguns metros acima, encontra a casa do médico e escritor, Fernando Namora. “Os meus últimos livros na sua montagem e redacção finais foram escritos na aldeia”, diz a lápide de homenagem. A cortina de granito conduz os passos em direcção à Igreja Matriz de S. Salvador, provavelmente, construída no século XV. Rumo ao castelo, pela rua do Marquês da Graciosa, impõem-se os solares da família Pinheiro, do século XVIII e o solar da Graciosa, onde está instalado o pólo museológico de gastronomia e o posto de turismo.
Antes do castelo, ainda há tempo para descer pela rua da Pousada, ver de perto o pelourinho, o antigo consultório de Fernando Namora e a torre do relógio, onde está a réplica do galo de prata, que simboliza a atribuição, em 1938, do título de “aldeia mais portuguesa de Portugal” a Monsanto. De volta à romagem até ao castelo, fica pelo caminho a gruta. Mais acima, o forno comunitário esconde um miradouro natural, e uma casa que exemplifica o engenho destas gentes. É tempo para uma primeira paragem... é tempo de repousar o olhar na campina raiana.
Ao longo das calçadas, as mulheres sentadas vão exibindo as marafonas. São pequenas bonecas de trapos feitas a partir de uma cruz. Dizem que simbolizam a deusa Maia, da fecundidade. Não tem olhos para ver nem boca para falar. Devem ser deitadas na cama dos noivos na noite de núpcias para dar sorte, aconselham as artesãs. Também podem afastar as grandes trovoadas. Terra de usos e costumes, em Monsanto ecoam também os sons dos adufes.
O percurso é retomado. Já dentro da fortificação, pare, descanse e respire fundo. Aprecie o silêncio do interior do país. Depois de calcorrear o castelo, palco de outras guerras, é hora de descer, de reencontrar os monsantinos dispostos a partilhar as suas memórias.
Encarem esta longa dissertação, como uma boa sugestão para um passeio, neste fim-de-semana, que se anuncia marcado pela chuva...
1 comentário:
.1
amarrando o pano (como no crioulo guineense)deste post,
.2
piscando o olho à mm nas belezas e riquezas dos cantos da serra,
.3
recordando o final de 2004 a vaguear pelas magníficas aldeias históricas deste interior,
.4
acuso todas as chaves perdidas, portas fechadas, olhares incrédulos, horários incumpridos, respostas preconceituosas, sinalizações difusas...
.5
ficando confuso se a beleza, em portugal, apenas se encontra no olhar do viajante
.pausa
recordo a cozinha da Dona M., seus pratos de vime, e a broa, e a àgua da montanha, o seu olhar antigo e...
.6
a 20€ o prato, de vime
.7=.5
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